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Lista | Livros Banidos

No seguimento do desafio da Nights do canal de Youtube Words à La Carte, trago mais opções de leitura para participarem neste desafio. Numa pesquisa que fiz, para ver se algum livro da minha pesquisa se inseria na minha espécie de TBR de ano/lista de livros que quero ler/ lista de vocês perceberam o quê.


Aqui ☝🏻 podem ver o desafio que a Nights lançou relativamente a livros banidos.


American Psycho / Psicopata Americano



A vida de Patrick Bateman, um bolsista norte-americano e assassino em série, é retratado neste livro de Bret Easton Ellis, publicado em 1991. Escusado ser dizer que as descrições dos assassinatos e o facto de ter um protagonista psicopata como narrador fez com que esta obra, torcesse o nariz a muita boa (meh.) gente.
Mesmo antes de ter sido publicado, American Psycho, foi bombardeado com críticas devido ao seu teor "sádico" e que contribui para a violência que assola os Estados Unidos, trazendo desgraça a todos que fizerem lucro com esta obra.
O autor chegou mesmo a ser banido da cerimónia de inauguração da Euro Disney. Após a Simon & Schuster ter voltado atrás, a editora Vintage Books foi a resistente e publicou o livro em 1991, recebendo, tanto o autor como a editora, ameaças de morte pela publicação da obra.
American Psycho (em português Psicopata Americano - editora Marcador) chegou a ser banido na Alemanha (entre 1995-2000), há restrições de venda na Austrália, em que apenas podem comprar os maiores de 18 anos e o livro terá que estar embrulhado em plástico (legislação da Censura na Austrália). Nos Estados Unidos continua a ser alvo de várias tentativas de ser banido.



I Know Why The Caged Bird Sings / Sei Porque Canta o Pássaro na Gaiola




Autobiografia de Maya Angelou dos seus primeiros anos. É o primeiro livro de uma série de sete. 

Apesar de ser uma obra de crescimento e superação sob a supremacia branca masculina, I Know Why The Caged Bird Sings (editado em Portugal como Sei Porque Canta o Pássaro na Gaiola pela editora Antígona) tem 39 contestações a favor do banimento e banimentos efetivos no decorrer de 30 anos. Abuso sexual a crianças, racismo e homossexualidade levaram a que o livro fosse contestado e até banido de escolas e bibliotecas. 

Banido em várias escolas no Alabama, Carolina do Norte, Maine, Washington, Califórnia, Florida, Texas, Mississípi, Colorado, Iowa, Arizona, Tennessee, Geórgia, Minnesota, Ohio, Maryland, New Hampshire, Montana, Virgínia, Wisconsin, Idaho, Pensilvânia e Illinois. 

No estado do Arizona, foi banido do plano curricular de uma escola por não refletir os valores tradicionais de uma família. 

No estado do Alabama, uma das razões de uma das escolas foi o incentivo a amargura e ódio à raça branca. 

No estado do Maryland, foi retirado do plano curricular de uma das escolas por retratar a raça branca como horríveis, nojentos e estúpidos, e que se uma criança não tem sentimentos negativos pela raça branca, que a obra pode criar bases para isso.




Rage



Rage foi um dos primeiros livros escritos de King sob o pseudónimo Richard Bachman, ao contrário que vários assumem, Carrie foi o primeiro a ser publicado, não a ser escrito. Antes de Carrie temos Blaze, The Long Walk e Rage. 
Rage fala de Charlie Decker, um adolescente bastante revoltado, que resolve matar professores para manter a sua turma refém. Trata-se de um thriller psicológico, que esteve associado a vários tiroteios em escolas secundárias nos Estados Unidos, nomeadamente o caso de Michael Carneal, de 14 anos, da Heath High School, no Kentucky, que atirou contra 8 colegas, matando 3 deles, em dezembro de 1997. 
Este caso foi o que levou Stephen King a que tomasse a decisão de banir o livro Rage de todas as plataformas disponíveis de venda, com sucesso, em todo o mundo. 

Hoje em dia, apenas se pode encontrar edições usadas de Rage (de 1977, bastante caríssimas, chegando aos 21 100€) ou então na edição de 1985 de The Bachman Books (uma compilação de 4 livros de Richard Bachman). 




Nas edições mais recentes de The Bachman Books, não inclui Rage, nem nunca foi editado em Portugal.




The House of Spirits / A Casa dos Espíritos

A Casa dos Espíritos foi o livro de estreia da autora chilena/norte-americana, Isabel Allende e foi publicado em 1982. Acompanhamos as tragédias e as vitórias da família Trueba, no Chile, ao longo do século XX.  

Salvador Allende era primo em segundo grau da autora, mas mais conhecido por ser o primeiro presidente socialista do Chile. Depois de eleito e de ter apresentado as suas medidas e projetos socialistas, falhou em conseguir o apoio da oposição, e estes organizaram um golpe de estado para terminar a sua presidência. O golpe marcou o fim dos já 150 anos de democracia no Chile, implementando uma ditadura militar, com o General Augusto Pinochet como líder do golpe e tornando-se ele o presidente do Chile. O golpe de estado, que contou com o apoio do presidente republicano dos Estados-Unidos Richard Nixon, ocorreu em 11 de setembro de 1973. A brutalidade e violência com que o golpe foi feito, ficou conhecido pelo mundo inteiro, pois inclusive perseguiram e torturam os apoiantes da oposição durante anos. Regeu, até 1990, o regime ditatorial de Pinochet. Nesse ano, por pressão internacional que durou cerca de 10 anos, Pinochet foi obrigado a autorizar eleições democráticas, foi eleito Patricio Aylwin, mas Pinochet continuou associado ao governo até 2002. No regime de Pinochet, foram executadas cerca de 2 mil pessoas, quase 27 mil torturadas e 200 mil exiladas, incluindo Isabel Allende. 



Inicialmente, a venda d’A Casa dos Espíritos foi banida no Chile e os chilenos tiveram oportunidade de conhecer o livro depois de visitantes estrangeiros o contrabandearem para o país. 

Hoje em dia, nos Estados Unidos, o livro continua a ser constantemente contestado como inapropriado pelo seu teor sexual, incluindo incesto.  Em 2014, no terceiro recurso ao banimento do livro na escola secundária de Watauga na Carolina do Norte, a própria autora chegou a defender a permanência da obra no plano curricular, através de uma carta dirigida ao júri. 

A Casa dos Espíritos foi “desafiado” 7 vezes a ser retirado (sem sucesso), por conselhos escolares e pais.



The Satanic Verses / Versículos Satânicos 


Salman Rushdie publicou este livro em 1988 e este fala sobre a aventura de dois indianos muçulmanos, que sobreviveram a um ataque terrorista ao avião que seguiam de Índia para a Grã-Bretanha. Rushdie serve-se do realismo mágico para retratar como os dois protagonistas refazem a sua vida após o ataque. 

O livro é levemente baseado no fundador do islamismo e profeta, Muhammad, que alegadamente fez uma má interpretação desses versos, que se encontram no Corão, como uma revelação divina. 

Houve uma reação violenta, por parte dos muçulmanos, para com a obra de Rushdie. O autor por ter usado o islamismo como sátira, foi acusado de blasfémia. Em 1989, o Aiatolá (líder supremo do Irão) Khomeini lançou uma fatwa (uma decisão jurídica) que ordena o assassinato de Salman Rushdie pelos muçulmanos. 

Em 1998, quando o presidente iraniano Mohammad Khatami foi eleito, informou que já não apoiaria o assassinato de Rushdie, mas a fatwa ainda se mantém, inclusive em 2016, uma organização doou 600 mil dólares à fatwa. 

Alguns dias após o lançamento da fatwa, oficiais iranianos ofereceram uma recompensa de 6 milhões de dólares para quem matasse Rushdie, obrigando-o a viver sob proteção policial durante 9 anos. 

O Reino Unido e o Irão terminaram as suas relações diplomáticas devido a toda a controvérsia que envolveu o autor e o livro.



 

Em 2016, a Academia Sueca, responsável pelos prémios Nobel, denunciaram a fatwa como uma violação ao direito à liberdade de expressão. 

Todos os anos, no dia 14 de fevereiro, Rushdie recebe uma carta em como a sua cabeça continua a estar a prémio. 

- BANIDO no Irão, Paquistão, Arábia Saudita, Egipto, Somália, Sudão, Bangladesh, Malásia, Qatar, Indonésia, África do Sul, Índia, Quénia, Kuwait, Libéria, Papua Nova Guiné, Senegal, Sri Lanka, Singapura, Tanzânia e Tailândia  

- QUEIMADO na Inglaterra em 1989 e retirado de duas livrarias, por sugestão da polícia, após terem recebido ameaças de morte. 

- No Paquistão cinco homens MORRERAM num protesto contra o livro. 

- Na Venezuela, ter ou ler este livro era considerado um CRIME PUNÍVEL até 15 anos de prisão. 

- Em 1991, em incidentes isolados, dois tradutores e um editor foram ATACADOS (os tradutores esfaqueados e o editor baleado), dois deles sobreviveram.


Querem mais sugestões?


Vejam o vídeo da Nights, que serviu de inspiração para este post  👇🏻





Pois é, um livro banido não vem apenas do governo, e tudo se resume ao efeito dos livros nas pessoas. E vai desde a religião, à educação.

Poderá haver livros que possam sensibilizar a psique humana mas nunca irá ser possível um jovem adulto (e até adultos, claro; estou a incluir livros banidos dos planos curriculares) conseguir desenvolver pensamento crítico se não tiver acesso a toda a informação, e daí tecer uma opinião com fundamento e informada. Tudo isto é possível pela liberdade de expressão e, no caso das escolas, ajudar o adolescente e jovem adulto nessa jornada. 



 


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