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Opinião | Princípio de Karenina de Afonso Cruz

"As pessoas felizes não são as pessoas que vivem a abanar a cauda. As pessoas felizes choram e temem e caem e magoam-se e gritam e esfolam os joelhos, porque a sua felicidade independentemente da roda da fortuna, do acaso, das circunstâncias."


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Este livro não me agarrou desde o início. Foi uma realização lenta e espectacular de como chegar até ao nosso plano feliz ao ultrapassar os nossos limites psicológicos, confirmando assim algo que tenho vindo a construir ao longo da minha vida. Entrem neste livro a pensar que no final, tudo se entrelaça, tudo se explica e nada é deixado ao acaso. Que aquilo que podem achar demais, não o é. Nem tudo que parece é! Imaginaste a tua mãe a dizer isto, não foi?




O que é a felicidade? 

E o amor?

E o destino?

O que define a nossa felicidade?

Por exemplo, na minha perspectiva, considero a felicidade um pano de fundo que, independentemente dos obstáculos que a vida nos impõe, está sempre presente e a temos noção dela até mesmo nas alturas mais desesperantes.

Do que se trata o Princípio de Karenina? Parte da passagem de Anna Karenina em que Tolstói diz que "Todas as famílias felizes são parecidas, todas as famílias infelizes são infelizes à sua maneira."

Um pai dirige-se à filha explicando todo o seu percurso de vida até àquele momento. Desde que se viu em criança, aprisionado ao medo irracional do pai de tudo aquilo que estaria do lado fora da soleira da porta de casa, o seu percurso de se soltar da prisão imaginária e de encontrar a felicidade única a cada ser humano. 

Aliás, descobrir todos os sentimentos quentes e aconchegantes que foi privado ao longo da sua vida. Toda a influência parental irá refletir-se na criança até à idade adulta e ser capaz de ter um pensamento crítico sobre aquilo que sempre o rodeou. Daí o princípio que Tolstói tão brilhantemente interpretou.

Cruz transmite de forma simples (e utilizando imensas metáforas) do que se trata o amor, a felicidade, a liberdade e o sacrifício. Cada um tem a sua própria história com a sua dor e cabe a cada um de nós interpretar as prioridades de cada sentimento e de que forma a dor se liga à felicidade.

Não direi a minha interpretação do livro, porque é algo tão pessoal (como toda a leitura é). Quando nos vimos dentro de um livro que reflete e ajuda na nossa interpretação dos nossos princípios baseados nas experiências pessoais, é impossível colocar em palavras o que significa para nós relativizar isso tudo.
A escrita em primeira pessoa faz com que seja uma espécie de autobiografia do narrador, havendo assim uma linha de tempo única e gradual. Um livro pequenino mas com tanto para dar.

O autor foi capaz de me fazer encarar este livro de forma leve, pela sua escrita simples e metafórica, para no final ter que reler as últimas páginas duas ou três vezes para ver se tinha percebido como deve ser. Seguiu-se um momento de reflexão que os profissionais designam "burro a olhar para um palácio" em que estava a ligar os pontos todos e a tentar fazer a minha própria interpretação.
Não se deixem enganar pelo Afonso Cruz e o seu Princípio de Karenina, é muito mais que aquilo que parece.

Definitivamente irei ler mais de Afonso Cruz.






Princípio de KareninaPrincípio de Karenina de Afonso Cruz

Classificação: 4 de 5 estrelas


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