“O arrependimento é um conceito que não aprecio: significa que não assumimos aquilo que fomos.”
A Verdade Sobre o Caso Harry Quebert de Joël Dicker
Muitas das opiniões que recebi deste livro caracterizavam-no como genial e viciante. Porém, não achei que fosse um livro que me deixasse colada desde a primeira página, até porque isso não aconteceu.
A Verdade Sobre o Caso de Harry Quebert é um thriller com o seu quê de policial que arrecadou vários prémios literários e são, de facto, merecidos.
Algo que têm que ter em conta ao ler este livro é que temos uma situação em que é necessário separar as águas - trata-se de uma relação amorosa entre um homem de 35 anos e uma rapariga de 15 anos.
Isto leva à questão que divide mundos: até que ponto é aceitável uma relação entre um adulto e um adolescente com mente consciente (e com várias bitch fit à mistura).
Ora bem, conhecemos Marcus Goldman, escritor que atingiu um enorme sucesso com o seu primeiro livro e se vê com um bloqueio criativo quando tem que escrever o segundo, dentro do prazo estipulado pela editora. Aqui entra Harry Quebert. Quebert é o mentor de Goldman e é contactado pelo mesmo, quando se vê à rasca, para o poder ajudar a derrubar o bloqueio.
Goldman vem a saber que 35 anos antes, Quebert manteve uma relação com Nola Kellergan de 15 anos, que acabou desaparecida. Quando o corpo de Nola é descoberto, Quebert é preso pelo seu homicídio e Goldman arma-se em salvador da pátria e decide investigar a fundo o que realmente aconteceu, afirmando a inocência do seu amigo.
Ora bem, preparem-se já para o início: slooooooooow. O início do livro tem uma ação bastante lenta quando se foca mais na vida de Goldman e também do seu processo de escrita. A partir de um certo momento, toda a ação se desenrola com twists, descoberta e teorias à medida que aparecem mais personagens.
O livro está dividido por capítulos, onde cada um é uma lição dada por Quebert a Goldman de como ser um escritor. Cada excerto é uma espécie de preâmbulo para o que vai acontecer nesse capítulo.
Achei o Goldman profundamente superficial e arrogante mas, por outro lado, não conseguimos despegar dele. A realidade é que aqui, funciona e, de facto, quero ler o Livro dos Baltimore, por ele estar presente.
No entanto, não achei que a relação entre Quebert e Nola fosse bem desenvolvida. Pareceu uma relação porque sim, fria e superficial, apesar da tentativa do autor em escrever uma relação de amor profundo. No entanto, senti-o com outras personagens.
Ponho em cima da mesa, a possibilidade de Dicker o ter feito propositadamente de modo a não iludir o leitor de que se trata de uma relação moralmente repreensível. Deixarei isso para cada um interpretar e opinar conforme achar melhor.
Está um thriller muito bem construído. Podemos conseguir adivinhar quem fez o quê, mas toda a história é intrincada, onde é impossível adivinhar tudo. Saltos temporais em anos aleatórios, ou dias até (considerando o desaparecimento de Nola) estão muito bem inseridos, onde não se torna confuso e até nem nos encontramos com o perigo de estar a confundir com o presente.
Posso dizer que adorei a sátira às mulheres e aos casamentos dos anos 70, numa pequena comunidade. Assim como achei bastante divertida a mãe de Goldman, pelo seu exagero em tudo (um pouco forçado mas engraçado na mesma!). Não esperem escrita viciante, nem twists que não lembram ao menino Jesus. Esperem um thriller com pés e cabeça, onde tudo é levado em conta, até mesmo questões emocionais.
Dicker tem vindo em surpreender-me pela positiva, com o Desaparecimento de Stephanie Mailer (um thriller baseado na escrita de Agatha Christie), e agora com este menino esplendoroso, que apesar de que a escrita que Dicker adotou neste é diferente do livro Desaparecimento de Stephanie Mailer. Definitivamente, um autor a seguir.
A Verdade Sobre o Caso Harry Quebert de Joël Dicker
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