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Opinião | A Seca de Jane Harper

“A morte raramente altera o que sentimos em relação a alguém. Acentua-o, na maior parte das vezes.”


     Review in english     


Este foi um livro que me chamou a atenção pela popularidade. De facto, é difícil um thriller estar num patamar de cotações alto. As expectativas altas fazem parte de um leitor assíduo de thrillers, no que diz respeito à criatividade e na capacidade de instigar o coração a ficar acelerado e a garganta a ficar com um nó.

A Seca, ou The Dry em inglês, é o primeiro trabalho publicado por Jane Harper, uma escritora australiana. Apesar de ser o seu primeiro livro, este ganhou pelo menos 10 prémios literários, entre eles o 2017 Goodreads Choice Awards para Melhor Thriller de Mistério e para Melhor Estreia.

Aaron Falk volta à terra natal, depois de ter sido escorraçado dela, para ir ao funeral do seu melhor amigo da sua adolescência, Luke Adler, e de sua família. Suspeita-se que Luke tenha morto a sua família, suicidando-se depois. Aaron, a pedido dos pais de Luke e sendo ele agente federal, investiga a morte desta família, o objetivo de provar a inocência de Luke. A meio da investigação, Aaron vê-se forçado a confrontar o seu passado e o de Luke, que levou a ser exilado da pequena cidade.

https://drive.google.com/uc?export=view&id=1RteqzD7Oowh8cSKFfHWhLAPiK181XCQA

Tudo isto se passa numa pequena cidade a umas horas de Melbourne, Austrália. Não é segredo nenhum para ninguém, que a Austrália tem um sotaque e maneirismos linguísticos diferentes do inglês normal. Também não é segredo nenhum, que nunca de pode fazer uma tradução literal de uma língua. 

Digo isto porque achei a tradução mal feita, considerando que a tradutora não teve em atenção essas diferenças, e também levou as coisas a um sentido literal. Bike em inglês pode dar para mota ou para bicicleta. Bicicleta em inglês nunca significa mota. Isto um exemplo.
Bom, tradução à parte, algo que a autora não pode ter controlo sobre isso, vamos ao que interessa: A Seca. 

Apesar de ter um excelente enredo, não achei que fosse um thriller de mistério digno de tal, mas sim a cair mais para a vertente de policial. Não consegui sentir qualquer tipo de empatia por nenhum dos personagens, nem acho que estavam bem desenvolvidos, na vertente emocional. 
Parece que continham apenas o passado e o presente sem passar pela vertente emocional, que acho vital para um thriller. Thriller = suspense – ato de deixar o leitor (neste caso) na expectativa ou na ansiedade por algo que vai acontecer. Certo? Um autor deve conseguir instigar aquelas borboletinhas que estão no estômago, e Harper falhou aí um pouco. 

O que faltou na individualidade de cada personagem, compensa no geral.

Geral no sentido da população. Reparem que o título vem da seca extrema porque a Austrália passa. O modo em como agita a população, as consequências, a ambientalização está muito bem escrito. Conseguia sentir a angústia de uma população em decadência por algo que não conseguem controlar.

Posso dizer que gostei imenso do enredo e do final bem apropriado. Nunca consegui ter confiança suficiente para estabelecer um suspeito ou uma teoria. Harper conseguiu despistar bem o leitor, para algo que nem era possível tecer. Nenhumas questões ficam para responder e o final não é perfeitinho, mas é perfeito para o enredo em questão. Perfeitamente imperfeito.  

Apesar de ser o primeiro trabalho da autora, vejo que esta tem potencial para atingir e estabelecer-se como uma verdadeira escritora de thrillers policiais. Como imaginam, é raríssimo um autor ser perfeito à primeira. Dito isto, quero ler o segundo livro desta série de Aaron Falk, Force of Nature






A SecaA Seca de Jane Harper

Classificação: 3 de 5 estrelas


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