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Opinião | Sou Um Crime de Trevor Noah

“Nelson Mandela disse certa vez: 'Se falarmos com um homem numa língua que ele entende, isso chega-lhe à cabeça. Se falarmos com ele na sua língua, isso alcança-lhe o coração.' Tinha muita razão. Quando fazemos o esforço de falar a língua de outra pessoa, ainda que seja apenas expressões básicas e soltas, o que estamos a dizer é: 'Entendo que tens uma cultura e uma identidade que existe para lá de mim. Vejo-te como um ser humano.'”


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Este já estava a penar na minha lista, de tanto que esperou. 
Resolvi dar o salto quando a Corina, d'O Meu Reino da Noite, ter ouvido o audiobook mais que uma vez e me martelado a cabeça até mais não para ouvir o livro em vez de o ler físico.
Dito isto, sendo eu como sou com audiobooks, e tendo eu um nível de concentração do tamanho de uma... 

...

onde é que eu ia?

* queue the crickets *

Opá! Que livro! Que Senhor! Que MÃE!






Para quem não sabe, o Trevor Noah é apresentador de um talk show diário de sátira política (The Daily Show) para além de ser comediante e full-time crush da Bumba na Fofinha.

Trevor Noah tem uma voz muito bom colocada, fala de forma eloquente, com um sotaque maravilhoso. Junta sempre um toque de comédia às situações mais sérias, sempre com posições muito bem fundamentadas pois Trevor Noah é uma pessoa de grande intelecto, que fala daquilo que sabe.

Trevor Noah nasceu em 1984 (falando em 1984... tens aqui uma coisa que te pode interessar) em Joanesburgo, África do Sul... durante o Apharteid.

O Apartheid foi um sistema de segregação racial em vigor na África do Sul de 1948 até o início dos anos 90. Caracterizava-se por ser um sistema autoritário baseado na supremacia branca, minoria, que controlava economica, politica e socialmente a África do Sul.

Uma das primeiras medidas de controlo era a proibição de casais birraciais. 
Como já se pode deduzir, Noah nasceu de uma relação (mais ou menos...) entre um branco e uma negra numa época conturbada para a história da África do Sul. Noah nasceu de um crime e todo o livro retrata essencialmente a disparidade racial que sentiu.
Não sendo nem negro, nem branco, foi alvo de racismo consciente e inconsciente por parte tanto de familiares, como estranhos, professores e forças policiais.

Outra questão essencial do livro, na minha perspectiva, é a maternidade da mãe. A sabedoria dessa senhora tão espantosa, tão inspiradora. Entende-se perfeitamente o amor que Noah sente pela mãe, por tudo que ela lutou e viveu.

Considerando o peso que a questão racial está a ter de momento, é fundamental este livro ser lido. Noah é capaz de narrar na sua própria voz maravilhosa e falar (e traduzir) as várias línguas que teve que aprender. A isto, junta-se situações de pura comédia que nos fazem colocar em pausa e rir no meio de uma sala cheia de gente.

Coloca-nos na pele de outra pessoa, por um momento que seja, para consciencializar uma dor de gerações. Uma dor que vai para além de palavras. Uma dor que o outro nunca vai conseguir experienciar por completo. Uma dor que precisa de ser erradicada de uma vez por todas, fazendo cada um a nossa parte. Mais que não seja ultrapassar a nossa própria ignorância e fazer e aprender mais para ser melhor. 

Começando sempre por respeitar a liberdade do outro, que é quando a nossa acaba.

É um livro extraordinário e um dos melhores que alguma vez li. Se puder leiam e melhor ainda, oiçam.






Sou Um Crime: Nascer e crescer no apartheidSou Um Crime: Nascer e crescer no apartheid de Trevor Noah

Classificação: 5 de 5 estrelas


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