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Opinião | Mil Novecentos e Oitenta e Quatro (1984) de George Orwell

“Nós somos os mortos.”


     Review in english     



Acabei esta narrativa há 24 horas e ainda me pesa a alma.
Cometi o erro de passar de um livro pesado (à sua maneira), Cem Anos de Solidão, para passar para o 1984 que exige imenso do leitor.

Após os primeiros capítulos, fiz uma pausa de umas semanas, e retomei com muito mais ímpeto. E foi o melhor que eu fiz.

Orwell é um pseudónimo do autor Eric Arthur Blair. Ensaísta político e jornalista inglês e forte apoiante do socialismo.



És um calhau com olhos no que diz respeito à política, tal como eu? 
E, tal como eu, queres uma explicação curta e grossa? 


Há que ter em mente uma coisa: Orwell viveu durante o período das grandes guerras, inclusive a Guerra Civil Espanhola, onde lutou contra o fascismo. Ele era um socialista democrata, que lutava fervorosamente contra o totalitarismo. Aliás, é esse todo o objectivo do livro - o totalitarismo e a sua forma de converter as massas a renunciar a sua liberdade. 

Ora bem, vamos por definições bastante resumidas mas que dão para entender fundamentalmente o que se vai falar. Há toda uma complexidade política nestes termos que não irá estar presente - são termos gerais. 

1 - Socialismo - é um sistema político que defende o controlo público dos meios de produção e distribuição de forma a que haja uma sociedade de meios, oportunidades e direitos iguais para todos. No livro 1984, o socialismo inglês é apenas um nome fachada para controlo das massas ao pensarem numa sociedade de direitos iguais para todos quando na realidade se baseava no totalitarismo.

2 - Totalitarismo - é um sistema político que se caracteriza pelo controlo total e absoluto de uma nação. Não partidos de oposição, há controlo absoluto sob a vida individual, culto ao líder, etc. Exemplo prático: nazismo. O Fascismo é uma ideologia mais soft que o totalitarismo mas que se centra na repressão e violência para com a oposição e a sua vertente nacionalista.

3 - Autocratas - poder de um.

4 - Capitalismo - centra-se na detenção privada dos meios de produção e distribuição, com o único objectivo de obter lucro em vez de igualdade social.

Com as definições já estabelecidas, vamos ao livro antigo que afinal é atual.

Aqui vemos um mundo que se encontra dividido em 3 super potências, como se fosse, cada um, um país: Oceânia, Lestásia e Eurásia. Todos sob a liderança de partidos totalitários. 

Neste caso, Winston Smith vive na Oceânia e vive sob a opressão do Grande Irmão. Trabalha no Ministério da Verdade, onde altera e falsifica todo o tipo de arquivos que o partido achar por bem ser alterado. Apesar de não estar a ser influenciado pelo partido, nunca tomou nenhum tipo de ação. Até um certo evento, que faz com que queira lutar para terminar a opressão. 

Em toda a narrativa estamos perante um controlo de massas através dos sistemas mais subtis de controlo mental, para o evidente não seja óbvio. Vai desde o controlo de produção ou de escoamento de produto influenciar a vida da sociedade mais baixa, por exemplo.


"O poder consiste em desagregar a mente humana para a reconstituir sob uma forma nova, sob a forma que entendermos dar-lhe."


O que é mais assustador na narrativa é a tenebrosa semelhança com a nossa atualizade com fake news, ignorância progressiva dos problemas sociais, comunicação interpessoal mais escasseada. O ser humano está cada vez mais focado naquilo que é mais fácil e o mais prático, preservando a sua ignorância propositada ou até acidental quando se vê "entretida" em trabalhar duro para pagar as contas ao final do mês.

A luta de Winston pela liberdade de pensamento, pela liberdade da emoção humana, a dor sentida por tudo que está a seu redor e as consequências de um simples pensamento-crime contra o Grande Irmão. 
Este livro é dor, este livro é uma prisão em que ficamos aliviados por conseguir fechar o livro e sair dele.


Não é uma leitura leve, não é uma leitura fluída, mas é uma leitura que prende pelo choque do mundo lá representado e a semelhança subtil do nosso atual, e pela forma genial que Orwell expõe a ideologia política em vigor. É fácil prendermo-nos num mundo hipotético onde tudo o que conhecemos como ações, objectos e ideologias conspurcados de uma forma inimaginável. 
É como uma força da natureza: é assustador mas não conseguimos parar de olhar.


É uma obra-prima de leitura obrigatória.


Uma Leitura complementar e deveras pertinente: AQUI






19841984 de George Orwell

Classificação: 5 de 5 estrelas


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